CLARA NUNES: SANTA CLARIDADE
por Sátira Machado
“... sou a mineira gerreira, filha de Ogum com Yansã...”
Capa do disco Clara Esperança, onde a cantora profetiza que um dia o Brasil terá um presidente negro
Clara Nunes foi a primeira mulher brasileira a ganhar visibilidade na mídia cantando ritmos dos cultos aos Orixás. O modo de vestir roupas brancas, de se enfeitar com balangandãs e berenguendéns, de rodar descalça e de entoar os sons de África a fizeram ícone da Música Popular Brasileira.
Clara Francisca Nunes Gonçalves nasceu em 12 de agosto de 1942, em Cedro(hoje Caetanópolis), distrito de Paraopeba/MG. Batizada na Igreja de Santo Antônio, seu nome lembra o da padroeira da Televisão, Santa Clara de Assis que morreu em 11 de agosto de 1253. A voz de Clara teve destaque no coral da Igreja Católica do bairro de Renascença de Belo Horizonte. Em 1960 venceu seu primeiro concurso como cantora: A Voz de Ouro ABC, em Minas Gerais. Teve programas na Rádio Inconfidência e TV Itacolomi, de Belo Horizonte, entre outras emissoras.
Em 1965, já no Rio de Janeiro, apresentava-se na TV Continental. Nas areias de Copacabana, identificou-se com as religiões de matriz africana. O primeiro disco foi A voz adorável de Clara Nunes (1966), pela Emi-Odeom. Ao longo da carreira, cantou sambas-canção, sambas enredo, partido-alto e ritmos afro-brasileiros.
Vários discos foram sucesso de vendagem como, por exemplo: Canto das três raças (1976), As forças da natureza (1977) e Guerreira (1978). Chico Buarque compôs Morena de Angola especialmente para Clara Nunes, faixa do disco Brasil mestiço (1980). Músicas como A Deusa dos Orixás e Tributo aos Orixás também fizeram sucesso. Seu último disco foi Nação (1982). Clara Nunes morreu em 02 de Abril 1983. No Rio Grande do Sul, a Associação Clara Nunes, presidida por Alexandre Gabriel, preserva a memória da cantora e realiza um trabalho social com crianças e jovens da comunidade da Vila São Miguel, no Morro da Polícia de Porto Alegre. A associação também mantém a Biblioteca do Negro “Maria Helena Vargas da Silveira”, na residência da Profa. Yvanilda Belegante, em Viamão/RS. www.associacaoclaranunes.ubbi.com.br.
No município de Caçapava do Sul, há 18 anos, também existe o GRUPO DE DANÇA CLARA NUNES.
Confira, abaixo, alguns trechos de músicas interpretadas por Clara Nunes:
DEUSA DOS ORIXÁS
Composição: Romildo/Toninho
(...)Mas Yansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
Mas Yansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
Yansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
Yansã, cadê Ogum?
Foi pro mar (...)
TRIBUTO AOS ORIXÁS
Composição: Mauro Duarte / Noca / Rubem Tavares
(...)Neste terreiro em festa
Entre mil adobás
Prestamos nosso tributo
Aos Orixás
Ao rei das matas: Okê bamboclim!
Ao vencedor das demandas: Guarumifá!
À cacarucaia dos Orixás: Saluba!
À grande guerreira da lei: Eparrei!
Nos rios e nas cachoeiras: Alodê!
Ao dono da pedreira: Caô,Caô!
À rainha do mar: Adofiaba mamãe!
E ao curandeiro das pestes: Atotô!
Agô-iê, Agô-iê, AgôMutumbá, Mutumbá
Pai maior, oni-babá! (...)
MORENA DE ANGOLA
Composição:Chico Buarque
(...) Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Morena de Angola que leva o chocalho amarrrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela (...)
OBS: Pode-se encontrar a obra completa, em 16 CDs remasterizados, embalados em capas que reproduzem as originais (1997) ou no BOX CLARA NUNES, composto de 8 cd's contendo toda a sua obra + 1 cd Raridades (2004).
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CHICO BUARQUE PARTICIPA DE DOCUMENTÁRIO SOBRE CLARA NUNES
http://ofuxico.uol.com.br
A cantora Clara Nunes vai ganhar um documentário em longa-metragem, contando com entrevistas de Chico Buarque, Marisa Monte, Nana Caymmi, Bibi Ferreira, parentes e a primeira professora da cantora, na cidade de Paraopeba, Minas Gerais.
Clara morreu no dia 2 de abril 1983, depois de 28 dias de agonia, hospitalizada após um choque anafilático ocorrido durante uma cirurgia de varizes, em uma clínica do Rio de Janeiro.
O filme conta com o aval do viúvo de Clara, o compositor Paulo César Pinheiro. O roteiro é de Rodrigo e Renata Alzuguir e a direção do documentário é de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir. A previsão de estréia é no início de 2007.
Quem foi Clara Nunes
Clara Nunes nasceu em Paraopeba, MG, em 12 de agosto de 1943. O pai, Mané Serrador, era violeiro e cantador de folias-de-reis. Órfã desde pequena, aos 16 anos foi para Belo Horizonte, onde conseguiu empregar-se como operária numa fábrica de tecidos.
Por essa época, cantava no coral de uma igreja, ao mesmo tempo em que, ajudada pelos irmãos, concluía o curso normal. Em 1960 foi a vencedora da final do concurso A Voz de Ouro ABC, em sua fase mineira, com Serenata do Adeus (Vinícius de Moraes), e obteve o terceiro lugar, na finalíssima realizada em São Paulo, com Só Adeus (Jair Amorim e Evaldo Gouveia).
Contratada pela Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte, durante um ano e meio teve um programa exclusivo na TV Itacolomi. Nessa mesma época, cantava em boates e clubes, tendo sido escolhida, por três vezes, a melhor cantora do ano.
Em 1965 foi para o Rio de Janeiro e passou a apresentar-se na TV Continental, no programa de José Messias. Ainda nesse ano, após teste, foi contratada pela Odeon, que, em 1966, lançou seu primeiro LP, A voz adorável de Clara Nunes, em que interpreta boleros e sambas-canções. Em 1968, gravou Você passa e eu acho graça (Ataulfo Alves e Carlos Imperial), que foi seu primeiro sucesso e marcou sua definição pelo samba.
Em 1972, além de ter realizado seu primeiro show, Sabiá, Sabiô (com texto de Hermínio Bello de Carvalho), no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, lançou o LP Clara, Clarice, Clara, com músicas de compositores de escolas de samba e outras de Caetano Veloso e Dorival Caymmi. Ainda nesse ano, gravou o samba Tristeza pé no chão (Armando Fernandes), apresentado no Festival de Juiz de Fora, que vendeu mais de 100 mil copias. Em fevereiro 1973, estreou no Teatro Castro Alves, em Salvador, com o show O poeta, a moça e o violão, ao lado de Vinícius de Moraes e Toquinho.
Em 1973 gravou na Europa o LP Brasília e, no Brasil, o LP Alvorecer, que chegou ao primeiro lugar de todas as paradas brasileiras com Conto de areia (Romildo e Toninho). Em 1974, ao lado de Paulo Gracindo, atuou no Canecão, no Rio de Janeiro, na segunda montagem do espetáculo Brasileiro, profissão esperança, de Paulo Pontes (do qual foi lançado um LP), que contava as vidas de Dolores Duran e de Antônio Maria.
Em 1975, ano do seu casamento com o compositor Paulo César Pinheiro lançou Claridade, seu disco de maior sucesso. Outro grande sucesso veio em 1976, com o disco Canto das três raças. Em 1977 lançou As forças da natureza, disco mais dedicado ao samba e ao partido-alto. Em 1978 lançou o disco Guerreira, interpretando outros ritmos brasileiros. Em 1979 lançou o disco Esperança. No ano seguinte veio Brasil mestiço, que incluiu o sucesso Morena de Angola, composto por Chico Buarque para ela. Em 1981 lançou Clara, com destaque para Portela na avenida. No auge como intérprete, lançou em 1982 Nação, que seria seu último disco. Morreu em 02 de Abril 1983, depois de 28 dias de agonia, hospitalizada após um choque anafilático ocorrido durante uma cirurgia de varizes. Em dezembro de 1997, a gravadora EMI reeditou a obra completa da artista, em 16 CDs remasterizados no estúdio de Abbey Road, em Londres, e embalados em capas que reproduzem as originais.
Esta biografia foi reproduzida da Enciclopédia da Música Brasileira.
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www.claranunesvozdeouro.blogspot.com
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